Ivayne

Prólogo – Chief Assassin Ivayne of the Scarlet Crusade

Meu nome é Ivayne, a Assassina, tenho 27 anos. Sou ladina e a 3ª Chief Assassin da Scarlet Crusade. Dizem que tenho a alma bondosa, mas os fantasmas do meu passado gritam furiosamente dentro de mim pedindo vingança me fazem acreditar que talvez bondade seja uma palavra um tanto vaga. Talvez seja a hora de compartilhar estes fantasmas com outros – as memórias de Ivayne, a assassina.


Capítulo 1 – A camponesa Ivayne

Era primavera nos reinos do Norte. Era uma mulher caseira de longos cabelos escuros, e estava noiva. Eu tinha 19 anos e casaria no final da primavera, com o bravo paladino Leonard Jealloutus. Eu e minha família vivíamos tranquilamente numa vila nas clareiras de Tirisfal, ao noroeste das muralhas de Lordaeron. Meu pai era lavrador e um alquimista excepcional, um homem querido e respeitado por todos da vila; minha mãe, tecelã e ex-guerreira, era gentil, forte e liderava, de certa forma, a vila; e meu irmão mais velho, Paulus, era um homem admirável, um guerreiro forte e justo, um dos heróicos membros do exército de Lordaeron que retornaram após a segunda grande guerra contra a Horda.
Lembro-me claramente que o Príncipe Arthas havia saído em campanha contra demônios nas gélidas terras de Northrend e seu retorno foi celebrado com alegria e glória por todos os cidadãos de Lordaeron. A festa era linda, a capital estava toda enfeitada, e os sinos da Catedral badalavam o tempo todo, e Lordaeron inteira ovacionava e jogava flores à passagem do herdeiro do trono. Mas havia algo estranho e a alegria pelo retorno do príncipe de Lordaeron acabou logo quando este, enfurecido, se auto-intitulando “Rei”, matou o próprio pai, o Rei Terenas Menethil II, tomou a cidade e ordenou aos seus lacaios que abrissem os portões para que a Scourge invadisse.
O caos havia tomado conta da cidade. Centenas de pessoas foram mortas em um piscar de olhos, e eu me vi obrigada a empunhar lâminas e lutar por minha sobrevivência. Não pude salvar nem meus pais – mortos na minha frente pelo meu próprio irmão transformado em uma criatura morta-viva, que empunhava uma bizarra espada com um brilho azulado – não era mais o meu irmão, era apenas mais um escravo da mente corrompida de Arthas Menethil, conhecido como Doinferno.
Com outros cinco sobreviventes, me refugiei da Scourge num antigo abrigo construído na época da segunda guerra sob a capela da vila. Era úmido e pequeno, não tínhamos mantimentos, estávamos feridos e com fome. A nossa chance de sobrevivência era praticamente zero, quando ouvimos urros do lado de fora do abrigo.
Um ladino, ágil e muito habilidoso, corria livre pela vila, agora amaldiçoada e em ruínas, massacrando todas as abominações que estavam correndo soltas por ali. O ladino aparentava ter pouco mais de 40 anos, era alto e magro, mas apesar do tipo físico, definidos músculos apareciam sutilmente nas marcas da roupa de couro marrom escuro.
Após massacrar até o último monstro, ele reuniu os seus corpos pútridos em uma pilha, e ateou fogo neles enquanto ele fazia uma breve oração. Foi nessa hora em que eu tentei sair em silêncio do abrigo, porém a porta velha do alçapão começou a ranger e em pouco tempo, o ladino já havia arremessado uma adaga oculta em suas vestes de couro em minha direção. A adaga atingiu a porta do alçapão com uma precisão indiscutível, e me fez hesitar em dar mais um passo.
Após ver que era um ser vivo (e não um morto-vivo), um sorriso simpático e contagiante surgiu em sua face austera. O ladino interrompeu suas orações e veio em minha direção, retirando a adaga da madeira e guardando em sua túnica. Ele olhou dentro de meus olhos e disse, sorrindo: “Ainda bem que eu não havia mirado em você. Você está bem?” E mesmo ouvindo a voz dele e observando o sorriso, não havia ainda compreendido que eu estive a um passo de morrer – de novo. “Eu sou Invar. Qual o seu nome, donzela?” foi o que eu pensei ter ouvido em seguida, mas mesmo assim não conseguiu me tirar do transe em que eu havia entrado. Apenas alguns segundos depois que eu entendi o que houve e com algum susto eu consegui responder o ladino. Os outros sobreviventes saíram do abrigo e viram a figura que havia eliminado todas as ameaças a nossa sobrevivência do lado de fora, e começaram a re-estruturar tudo de novo.
Logo após este incidente, e ao ver todos reconstruindo as casas e plantando novamente o que havia sido perdido, Invar decidiu ficar conosco algum tempo. Foi aí que ele nos contou que era um mercenário a serviço do Rei Terenas e veio correndo quando soube o que havia ocorrido na capital.
Ele nos contou sobre a sua história, sobre alguns de seus feitos, porém não falou muito sobre o acidente que havia lhe custado um dos braços. Logo eu comecei a encaixar os fatos e me lembrei das histórias de um assassino de um braço só que ouvia meu pai contar como um conto de Hallow’s End. Isso me deixou ainda mais curiosa sobre o misterioso mercenário assassino que estava a minha frente neste momento, partilhando da comida que ele rapidamente foi caçar nas florestas próximas a vila. Mesmo a falta de um braço não o impediu de continuar sua carreira como assassino, nem de empunhar majestosamente sua espada de metal escuro, Serilas – a lâmina tinha um encantamento que reluzia com um tom meio avermelhado, o que lhe dava o apelido de “lâmina de sangue” nas lendas em que o meu pai contava. Não havia dúvidas: estava na frente de uma lenda viva.
Invar nos proveu durante os meses seguintes comida e água pura para nos mantermos vivos, e nos treinou para sermos ágeis e furtivos, capazes de caçar animais ainda sadios e colher algumas frutas sem sermos notados pela Scourge. Claro que muitas vezes me vi em maus lençóis sendo atacada pelos mortos-vivos, mas conseguimos nos manter vivos neste período de pouco tempo, e graças ao treinamento quase que militar de Invar, conseguimos aprender a manusear adagas, espadas e alguns até conseguiram manusear machados.


Capítulo 2 – A mercenária Ivayne

O tempo que treinamos juntos e a dependência que tínhamos um do outro nos tornaram um grupo forte e unido. Não demorou muito e conseguimos ver os pontos fracos da guarda da Scourge, e conseguimos em pouco tempo dominar o terreno em que nós estávamos residindo. Porém, uma nova ameaça se aproximou de nós – mortos-vivos sencientes começaram a nos atacar, algo que não esperávamos – todos os monstros da Scourge que havíamos visto até o momento eram apenas monstros sem raciocínio, agiam por instinto. Logo começamos a ver magos e guerreiros atacando a nossa pequena vila, e tivemos que recuar, procurando um novo lugar para viver. Fugimos das fronteiras do reino de Lordaeron, agora mais conhecido como as Plaguelands, em busca de um novo começo. Um começo bem amargo, no meu ver, mas ainda sim um novo começo. Invar pouco falou após a nossa fuga de Lordaeron – seus pensamentos pareciam estar em outro lugar.
Quando cruzamos os restos do que um dia foi o reino de Alterac, Invar nos levou para uma cidade linda, brilhante e que exalava um ar de pureza e paz que nunca eu havia sentido antes. Estava em Dalaran. Que felicidade eu senti em finalmente poder repousar em uma cama macia após tantas noites dormindo em um chão de madeira duro ou em algum lugar desconfortável no meio do nada. Eu finalmente consegui me libertar deste mundo em que eu estava vivendo um pesadelo, e sonhar com a vida que eu levava antes. Sonhei que estava correndo na campina próxima à minha casa em Tirisfal, com flores recém-colhidas para enfeitar a mesa de jantar, saltando feliz pelas campinas sem perceber que a realidade estava voltando a tomar posse de minha vida, e inclusive de meus sonhos... Sem perceber, a campina que eu corria logo começou a ter aquela cor amarelada horrível que a praga trouxe, e as casas começaram a ficar em ruínas. Ao abrir a porta de casa, estava tudo destruído, porém eu não conseguia perceber. As flores que eu trouxe já estavam mortas, eu sabia, mas o meu “eu” dentro do sonho não via isso, abracei a minha mãe e meu pai, e na visão do “sonho”, eram humanos, mas eu os via na realidade como zumbis. Vi meu irmão em seu quarto polindo a sua armadura, porém na realidade era um cavaleiro morto-vivo parado e aguardando uma nova ordem de matança, e quando eu cheguei ao meu quarto, eu coloquei as flores no vaso e me olhei no espelho. Quando eu vi o espelho, me vi como uma morta-viva e finalmente consegui me despertar dentro do sonho, e vi tudo destruído, como realmente estava. Em um ato de desespero, saí da casa, sendo perseguida pela minha “família” e a chegar à porta, vi o meu antigo amor, Leonard me segurando e perguntando o que havia acontecido. Quando eu comecei a falar e virei o rosto para a casa, os zumbis pararam e ficaram observando, imóveis. Quando eu olhei de volta, não era o paladino que eu amei, e sim o traidor Arthas Menethil que me segurava, e sussurrava em meu ouvido: “Estou de volta.”.
Talvez o maior grito de desespero que eu poderia fazer saiu naquela hora. Um grito que fez com que metade da cidade acordasse em desespero – MEU desespero. Invar foi o primeiro a chegar ao quarto, e quando eu comecei a contar o meu sonho, ouvi aquela voz horrível novamente – impossível de ser outra pessoa. O príncipe traidor, como havia dito em meus sonhos, voltou.
O traidor se vangloriou de sua última vitória, contra o seu mentor, Uther Lightbringer – fato que abalou a moral de todos. Aproveitando esse baque na moral de todos, o traidor atacou a cidade, e uma batalha épica aconteceu em seguida, aonde os mais poderosos magos de Dalaran tentaram conter a investida dos mortos-vivos liderados pelo monstro que criou essa maldita realidade.
Em poucos momentos, Invar nos reuniu para fugir de Dalaran – dito por ele que era a melhor opção no momento. Mesmo com ressalvas de todos, saímos da cidade. E pouco tempo depois, para nosso espanto, um demônio apareceu do meio da cidade e começou a destruir a cidade que era considerada o grande centro da magia do mundo. Dalaran havia caído, tal qual Lordaeron caíra. A fuga havia nos custado muito mais do que imaginamos – dos cinco sobreviventes da vila, apenas eu e Invar sobrevivemos. Mas como eu já havia aprendido, não havia tempo para lamentações, só tinha tempo para sobreviver, como uma verdadeira ladina.
Paramos para ver o que acontecera bem de longe, e tive a impressão de ter visto uma lágrima deslizar gentilmente pela face de Invar, talvez pelos nossos falecidos companheiros? Até hoje não consigo entender se foi realmente uma lágrima ou algum reflexo que, de relance, possa ter me confundido.
Após passar pelas ruínas de Alterac, chegamos à muralha que fazia a fronteira entre Stromgarde e Alterac. A grande muralha era a única lembrança de mais um dos reinos destruídos, talvez o único que, além de Lordaeron e Stormwind, merecesse ser reconstruído.
Em pouco tempo de viagem, a necessidade virou um hábito, o hábito virou um vício e, mesmo tendo condições de tentar voltar a ter uma vida normal, em poucos meses já era conhecida como uma habilidosa ladina mercenária de, se é que posso chamar assim, alto escalão e respeitada. Eu não aparentava mais a moça caseira de outrora. Cortei meus cabelos, não usava mais vestidos longos e claros, mas sim roupas de couro e pensava maliciosamente para aproveitar da situação da melhor maneira, meus braços finos definiram algum músculo e minhas mãos calejaram. A única conexão real entre o presente e o passado era o meu nome, mas infelizmente além da minha pessoa, todos que um dia eu conheci não mais poderiam me procurar.
Invar me levou em seguida para um lugar perdido no meio das montanhas, e que surpresa eu tive ao ver uma linda mansão montada no meio das íngremes colinas de Alterac! Todos que estavam naquela montanha logo o saudaram e o reverenciaram, algo que me fez ficar bem curiosa. Assim que entramos na mansão, ele me explicou: Eles eram a guilda dos assassinos, Ravenholdt, e prestavam serviços apenas para a elite. Invar conversou com um senhor, que me observou de relance e apenas balançava a fronte, quando finalmente terminaram de conversar, ele se apresentou: o líder da guilda Ravenholdt, lorde Jorach Ravenholdt. Conforme eles conversaram, iriam me dar abrigo, treinamento e equipamentos por um breve período, e avaliar se eu tinha o que era necessário para ser uma ladina. Invar em seguida se despediu e prometeu voltar em breve, e lá estava eu – novamente – sozinha.


Capítulo 3 – A ladina Ivayne

Dois meses se passaram desde a minha chegada na mansão Ravenholdt, todos os guardas já me reconheciam como um deles, e minhas habilidades eram cada vez mais refinadas, graças ao treinamento do grande mestre Fahrad. Pratiquei diversas batalhas com o orc que eles chamavam de “Mestre” Kang, apesar de não me agradar ficar tão próxima com essa “coisa”.
Foi logo após o final desses dois meses que Invar voltou, com uma expressão bem mais séria do que o normal, e mal falou com os que, outrora, o trataram de forma tão gentil. Ele veio direto a mim e me disse, de forma seca: “Vamos.”. Mal tive tempo de me despedir, e novamente estava na estrada com Invar.
Ele me trouxe um corcel e fomos em direção ao norte, de volta à Lordaeron. As paisagens, que já não pareciam normais quando saímos, com árvores apodrecendo e a grama com uma cor meio amarelada, agora estavam completamente bizarras – sem falar no cheiro. Podridão que exalava um aroma ainda mais desagradável que o outro.
Em certo ponto da viagem, antes de chegar a Andorhal, Invar dispensou os cavalos e apenas me disse “A partir de agora, vamos a pé. O nosso cliente quer completa discrição nesse serviço.”. Nunca as palavras de Invar me fizeram ficar tão chocada assim – era a minha primeira missão como ladina. Definitivamente, a Ivayne que um dia sonhava em casar e constituir família ficou no passado.
A missão era confusa: eu tinha que invadir um monastério, chegar até a capela principal, entrar furtivamente e absolutamente não assassinar ninguém. Assim que eu entrasse na capela, ir até o altar e coletar um manto que estará em cima do altar.
Mesmo assim, segui as normas estabelecidas pela missão, furtivamente entrei pelo cemitério e qual foi a minha surpresa ao me deparar com alguns mortos-vivos! Como a missão não dizia nada sobre matar essas abominações, executei todas elas e continuei a caminho da saída, quando ouvi um burburinho. Já entrei no local silenciosamente e consegui cruzar o caminho sem atrair atenção, e finalmente cheguei ao centro do complexo religioso. A porta que levava para a capela estava trancada, e tive que arrombar a fechadura para adentrar o recinto. Após abrir a porta, entrei e finalmente estava de frente para a capela. Imensa, com uma cor que, junto com o pôr-do-sol, a deixava rubra como o sangue, resolvi entrar. A porta estava entreaberta e havia muitos monges e sacerdotes orando no mesmo momento em que eu entrei. O altar estava vazio, e sem pensar muito, silenciosamente me aproximei dele e vi o manto. Em cima dele tinha uma carta aberta escrito: “Para Ivayne”. Isso me assustou um pouco, mas não mais do que o que eu vi logo após: uma luz cegante brilhou diretamente em minha direção, fato que chamou a atenção de todos os monges e sacerdotes que estavam na capela. Todos vieram em minha direção, e mal tive tempo de guardar o manto, então vesti de qualquer jeito o manto e tentei fugir da capela com pressa, minha localização havia sido revelada! O combate não durou muito, golpeei todos os alvos e fugi do local antes que os reforços chegassem. Ao ver com calma o que era o “manto” que eu deveria resgatar, era uma tabarda branca com o desenho de uma chama vermelha na altura do peito – igual a que os soldados e sacerdotes do monastério usavam. Essa seria o meu plano de fuga: fugir disfarçada até o máximo possível, depois guardar o item e entregar para Invar. Ao sair da capela, notei quão infantil havia sido o meu plano. Um exército havia se formado na saída da capela, e não havia jeito de enganar todos.
No meio deles, havia uma figura conhecida, esforcei minha vista para entender quem era, e a minha surpresa veio em forma de um choque ainda mais violento do que o pesadelo que eu tive em Dalaran: Era Invar! Ele estava lá, na frente do exército, ao lado dos líderes, apenas me observando. Por um minuto, pensei que fui enganada.
Invar veio ao meu encontro, mas ao invés de falar comigo, adentrou a capela, quase sem me notar. Deu uma volta, observou todos os corpos no chão e logo saiu. Falou uma única frase: “Sem uma gota de sangue no chão. A missão foi concluída com sucesso.”. O líder dos soldados acenou e todos abaixaram as armas. Em seguida, se aproximou de mim e me fitou meus olhos profundamente. “Meu nome é Arngrin.”, ele disse e fez uma reverência. Logo após, estávamos todos em uma mesa conversando sobre o ocorrido. Invar me explicou que ele era o líder dos ladinos da Scarlet Crusade, uma ordem focada na eliminação da Scourge de toda Lordaeron. A tabarda que estava no altar era um desafio para ver se eu era capaz de acompanhar Invar em uma real missão de espionagem no gélido continente de Northrend. Tivemos mais alguns dias de preparação e fomos a bordo da nau “Vingança Escarlate” em direção ao norte, em busca de informações que pudessem ajudar na luta contra Arthas. Não sei se foi o clime gélido, ou o rigoroso treinamento pelo qual eu passei, mas sentia meu sangue tão frio quanto às águas deste continente congelado.


Capítulo 4 – A ladina escarlate Ivayne

Frio. A única coisa que eu conseguia sentir nas últimas semanas era isso. Invar e eu buscamos por alvos e fraquezas na fortaleza-mãe do Lich King, que nós descobrimos recentemente: Icecrown Citadel. Porém, algo mais chamava a atenção dos soldados: como e por que motivo os Goblins estavam em Northrend antes de nós? Seguindo uma dessas pistas, Invar saiu da nossa base em Scarlet Harbor, em uma ilha bem próxima de Icecrown Glacier e foi a caminho do ponto mais frio e alto do continente: Storm Peaks.
Eu continuei na fortaleza, e acompanhei muitas das investidas que eles planejaram contra a fortaleza. Faltava a eles algo, algo bem simples e lógico: direção. Tudo o que eles decidiam, liderado pelo Almirante Barean Westwind, era puramente fútil. “Vamos por aqui que a Luz Sagrada irá nos guiar!” foi uma das brilhantes estratégias que eu ouvi, dentre todas as que foram debatidas. No final, comecei a ver a Scarlet Crusade como outras pessoas em Ravenholdt me advertiram antes, como um “bando de religiosos loucos”. Talvez poucos se salvariam deste estigma mas não era o suficiente para salvar toda a facção. No final, a solução deles foi até algo completamente sem sentido: atacar pela entrada principal com força total. Na mesma hora em que começaram a fazer seus preparativos para a investida, eu montei em um grifo e fui atrás de Invar.
Após alçar vôo, notei o exército escarlate em movimento, com seus estandartes e montarias. Uma bela visão – devo admitir, mas infelizmente não durou muito. O majestoso exército cruzou a muralha que marcava o início da fortaleza de Icecrown, e nesse momento, jurei ter ouvido a voz dele – o assassino de Lordaeron, Arthas Menethil – gargalhando em alto e bom som. Quando me dei conta, uma quantidade absurda de mortos-vivos cruzara os portões da cidadela e desceram as escadas, ao encontro do exército, liderado pelo Capitão General Orman de Stromgarde. A luta foi rápida e brutal, em poucos minutos, a legião de mortos-vivos já havia assassinado mais da metade das tropas. Com o exército fragilizado, era só uma questão de tempo até a aniquilação total. Em uma manobra curiosa, os zumbis recuaram, voltando para a fortaleza.
Novamente, a gargalhada de Arthas envolveu o ambiente, e qual a surpresa quando ele saiu vestido com sua armadura e aquela lâmina estranha. Caminhando como se estivesse passeando por uma campina, ele se aproximou dos cruzados. Ele comentou algo que não consegui entender, e ergueu a lâmina, que brilhou com uma luz azul cegante. Os soldados mortos do exército escarlate começaram a se re-erguer e atacar os que sobraram vivos. O próprio exército se atacando! Orman ficou tão estarrecido com a cena que ele mal notou quando um dos soldados o golpeara com uma lâmina.
Ele mal pôde acreditar no que ele acabara de ver, e sentir: traído pelas suas próprias tropas, pelos seus próprios companheiros, irmãos de combates anteriores. Então, chocado, caiu de joelhos e viu toda a tropa dizimada, nenhuma alma vivente restou após a última onda do exército escarlate contra si mesmo. Orman então tentou se erguer, mas acabou por deixar seu corpo cair para frente, completamente pasmo com o desfecho do combate. Sua ferida não era tão grave, mas sozinho não teria condições de sobreviver a ela. Mal conseguia se manter aonde estava, quanto mais tentar se levantar. Ao cair no chão, sentiu então o gélido chão de Icecrown, frio e sem vida, como um deserto congelado. A visão começou a embaçar, quando ele viu um vulto se aproximar dele. Era ele, o Lich King. Um último esforço o permitiu se virar e olhar para o seu executor.
Orman: Por que, Arthas? Por que faz isso com o povo que um dia jurou defendê-lo??
Lich King: Então que esta seja a sua primeira lição. Não tenho nenhum apreço por você ou pelo seu povo. Ao contrário, pretendo extinguir a humanidade deste planeta, e não fique tão assustado: eu tenho o poder para fazê-lo.
Orman: Mas... Você é louco... Isso é loucura!
Lich King: Não sou louco. Tudo o que sou é: raiva, crueldade e vingança – e você logo será isso, paladino.
Orman: Você não… ousaria…
Lich King: Seu coração… Essa batida incessante me incomoda. Vou silenciá-lo, como fiz com o meu.
E então um brado desesperado veio do local onde Orman estava. A última vez que eu pude ouvir a sua voz. O Lich King cravou em seu peito a lâmina monstruosa que ele carregava, parando o coração daquele que uma vez foi um líder da Ordem. Poucos segundos depois, um tom azulado iluminou a lâmina, enquanto o Lich King a arrancara do peito de Orman. Além da lâmina, algo mais se moveu: o corpo de Orman.
Lich King: Agora sim. Concedo agora a imortalidade a você, meu escolhido. Entreguei-lhe este dom para que você possa criar uma nova era, de trevas, para a Scourge.
Orman: ...
Lich King: Pois em seu último momento, todos devem servir ao único e... verdadeiro... rei.
Nessa hora, sem perceber, uma silenciosa lágrima desceu de meus olhos e acabou por cair até o chão, caindo como uma pequena e petrificada pedra no elmo do traidor. Assim que ela colidiu, ele olhou para o céu e me viu: lá no alto, petrificada e chocada com o que eu acabara de ver. O traidor apenas deu um grito para as gárgulas que ficavam a postos nos mirantes da cidadela, apontando em minha direção. Neste momento o terror foi sobrepujado pelo meu sentido de sobrevivência, e puxei as rédeas do meu grifo para fugir de lá. Lembrei de Invar, e sua investigação de Storm Peaks. A minha fuga de Icecrown foi turbulenta, esquivando dos ataques das gárgulas e tentando ao máximo chegar até as montanhas nas quais Invar havia me comentado. “Assim que cruzar a saída de Icecrown, olhe para o norte. Lá verá uma fortaleza, e será lá que eu estarei investigando. Precisando de mim, me procure lá, Ivayne.” – essas foram as palavras que ele havia me dito.
Eu não sei se eu estava chicoteando as rédeas por desespero ou por insistência, mas eu senti que logo o próprio grifo não agüentaria tantos golpes, mas acho que ele conseguiu entender meu desespero e voou o mais rápido que ele pôde. As gárgulas logo não passavam de um pequeno ponto negro distante.
Então finalmente eu cheguei à fortaleza que Invar mencionou. Cercada por pequenos robôs, que me lembravam os gnomos de Gnomeregan, montados em suas engenhocas. Aterrisei com o grifo próximo à entrada, o pobre animal estava exausto após a fuga desenfreada de Icecrown. Então finalmente eu vi o gigante portal de entrada da fortaleza na qual Invar havia comentado. Definitivamente era algo além da compreensão normal. Ao adentrar o grande corredor de entrada, eu logo vi uma trilha, uma mancha rubra, bem próxima a escadaria da entrada. Me abaixei para ver, realmente era o que eu imaginara: sangue. Qual foi a minha surpresa ao olhar em direção ao final da trilha para ver ele, o meu mentor e salvador – Invar – ali, ferido e envolto em uma pequena poça de seu próprio sangue!


Capítulo 5 – A assassina escarlate Ivayne

O desespero me tomou novamente, não bastara testemunhar o extermínio do exército escarlate e o encontro com o Lich King, agora lá estava ele, Invar, caído e moribundo aos meus pés. Com o pouco conhecimento que eu tinha, consegui estancar algumas feridas, mas não era o suficiente para garantir a sua sobrevivência. Ele então pegou em meu ombro com a sua mão, quase toda enfaixada, e me puxou para próximo dele. Ele mal tinha forças para falar, e ele então me falou, em seu último suspiro: “Ivayne... leve... Serilas até... o Monas... tério... Avise eles... para não... virem a... Ul... du...a ... r...” .
E então seu punho firme logo fraquejou, soltou meu ombro e caiu em seu já inerte corpo. Era este então o final do grande líder dos assassinos da Scarlet Crusade. Minha visão logo ficou turva, lágrimas não paravam de cair de meus olhos, e eu não pude fazer nada para impedir. Segurei o punho de Invar contra meu rosto, em uma vã tentativa de fazer com que ele visse como eu me abalei. Em um breve momento, voltei a ser a camponesa que vivia passeando nos campos de Lordaeron, chorando por algum motivo fútil. Mas agora não era tão fútil – era a morte daquele que eu adotei como meu pai, meu instrutor e meu amigo. Repentinas imagens começaram a inundar a minha mente, tempos marcantes de nossos momentos juntos, quando ele matou os zumbis que assolavam a vila; quando ele estava nos ensinando a empunhar as armas, os momentos de treinamento e de conversa; quando nós fomos à Dalaran e tudo o que ele nos explicava sobre a linda cidade; sua feição quando ele viu a cidade sendo destruída e nossos companheiros mortos no caminho. Tudo isso veio em segundos na minha mente, e logo após, a imagem dele morto ainda estava ali.
Eis que eu senti um choque vindo da mão fria de Invar, como um forte golpe em meu rosto. Um golpe que me lembrou, ou melhor, não havia sido o golpe. Ouvi uma voz dentro de mim, mas não era como da última vez, quando eu tive o pesadelo. Foi uma voz que ressoou em toda a minha mente três palavras: “Autocontrole”; “Foco”; “Objetivo”. Eu reconheci então a voz, era Invar, eram os mandamentos que ele nos ensinara, como ser um “verdadeiro ladino”, era o que ele dizia. Apesar de nunca ter nos explicado.
Em um momento de fraqueza, perdi tudo o que acreditava e esqueci tudo o que Invar me ensinou. Nunca mais. A camponesa que um dia gozou de uma vida despreocupada está enterrada junto com os familiares que a cercavam. Eu sou Ivayne, a mercenária. Ivayne, a assassina. Ivayne, a ladina. Sou as três e apenas essas três.
Peguei Serilas e o conteúdo da mochila que Invar carregava. Dentro dela, apenas o realmente necessário para um ladino: mantimentos, frascos com venenos distintos, algumas ataduras e... duas cartas? Mas pra quem? Logo após guardar os conteúdos em minha própria mochila, vi os remetentes: Yana Bloodspear e... eu??
Com voracidade abri a carta endereçada a mim, nela tinha um pequeno mapa e uma carta em papel gasto. O papel não continha nada escrito, apenas uma mancha no fundo do papel. Era um código da guilda dos assassinos, Ravenholdt. Imediatamente molhei o papel no sangue empoçado de Invar e o aqueci depois com uma pequena fogueira. As letras logo começaram a surgir, alimentadas pela chama e pelo sangue.

Ivayne,
Todos podem matar, mas apenas um verdadeiro ladino vai saber como matar e permanecer furtivo. Todos podem roubar, mas apenas um verdadeiro ladino terá a habilidade de fazer com que a vítima não perceba o furto. Todos podem seguir objetivos, mas apenas um verdadeiro ladino saberá quando e quais missões ele deverá aceitar, e as que ele deverá recusar. E por fim, todos os ladinos um dia saberão tudo isso e se vangloriarão para os outros, mas apenas um verdadeiro ladino irá apenas observar e manter suas habilidades guardadas para si. Os ladinos que se jogarem na arrogância, serão mortos antes que percebam, pois você, uma verdadeira ladina e minha pupila, será a lâmina que irá desferir o golpe que os matarão.
Se estiver lendo esta carta, é porque eu não consegui sobreviver à minha investigação em Ulduar. Deixo aos seus cuidados este pequeno mapa, indicando a localização da lâmina gêmea da Serilas, forjada no mesmo minério que ela, e tão forte quanto. Use-as com agilidade e sabedoria.
Invar.

Foi quando eu me dei conta, ele já sabia que não iria voltar. Por isso ele recusou veementemente que eu o ajudasse ou o seguisse. Mas... por que ele fez isso? Com muito cuidado, deslizei minha adaga para suavemente abrir a carta endereçada a Yana Bloodspear. Minha intuição me diria que esta carta teria as respostas que eu procurava. Estava certa.

Meu amor,
Finalmente o tempo chegou para mim. Não pude mais suportar as dores que estavam me consumindo por dentro, essa putrefação que está lentamente corroendo o meu corpo. Desde que eu defendi a primeira hoste de mortos-vivos antes do ataque à capital de Lordaeron, aquele corte que foi feito em meu pulso não melhorou. Os sacerdotes da Order of the Silver Hand na época me disseram que não havia o que fazer. Por culpa dessa putrefação, tive que sacrificar minha mão, e ao longo dos meses, meu braço. Há alguns dias, tive que cortar mais um pedaço, agora do meu antebraço. A ardência dessa lenta corrupção de meu corpo já está ficando muito forte, sinto lentamente a ardência arrancar mais do que a vida do meu corpo, sinto como se fosse a minha alma sendo arrastada para fora do meu corpo. Tenho tido pesadelos cada vez mais constantes, sobre me aliar ao Lich King, ontem eu comecei a ouvir vozes quando passava perto de Icecrown em uma investigação. As vozes me diziam para me unir ao Lich King, que eles fariam com que a dor sumisse. Ivayne não percebeu, e espero que ninguém mais saiba.
A pessoa que portar esta carta irá carregar junto dela a minha arma, não se preocupe com isso, eu a dei para ela de bom grado, e peço que você a auxilie no que ela precisar. Ela não sabe da minha enfermidade ou de minha dor, então peço que mantenha esse segredo apenas para você. Proteja nossas filhas, Adelle e Lyabria. Amo todas vocês, lamento por não vê-las crescer. Use o dinheiro que eu guardei dentro da urna da sala para ir para longe de Lordaeron, talvez até para longe dos reinos do Leste.
Que a Luz Sagrada as proteja, amo todas vocês.
Invar.

Prometi que não ia chorar, mas infelizmente não pude me conter. Por que ele não me contou? Por que ele escondeu de mim essa… dor, essa… angústia?? Após ver o que a Scourge era capaz de fazer, já sabia que logo eles iriam marchar por essa fortaleza, se já não o fizeram, e iriam clamar o corpo de Invar para eles. Sabia o que deveria fazer. Prontamente tirei de minha bolsa duas moedas de prata, deitei o corpo de Invar no chão e coloquei-as em seus olhos. Coloquei as ataduras velhas e sujas em cima de seu corpo e me levantei. Tirei de minha bolsa uma garrafa de cerveja e lentamente derramei em seu corpo inerte.
Assim que a garrafa se esvaziou, arremessei-a com força contra a parede oposta ao corpo de Invar, um pequeno gesto de fúria contida. Ajoelhei-me e peguei minha lâmina de sílex e a colidi com uma pequena pedra de pirite, em cima de uma das bandagens ensopadas com cerveja. Logo as fagulhas deram lugar a uma pequena brasa, e a pequena brasa a um pequeno foco com chamas. A chama logo virou uma modesta pira funerária, que apesar de não ter orações de sacerdotes ou um local apropriado para tal, foi o mais honrado, na medida do possível.
Após ter certeza que os ossos estavam quase completamente carbonizados, murmurei algumas palavras, “Algum dia, minhas lâminas serão as lâminas que darão ao maldito traidor que criou essas aberrações a punição que ele merece. A vingança divina que levou meus pais, meu irmão, meu amor, meu mestre e amigo e minha inocência.”
Saindo de Ulduar, vi meu grifo quieto no local dele, olhando para mim. Ao fitar o meu olhar, logo se abaixou em um gesto de obediência, mesmo sem ter dito a ele uma palavra. Ele já sabia para onde ir. Eu já sabia aonde iria. Iria de volta a Lordaeron. De volta às clareiras de Tirisfal. Ao monastério da Luz Sagrada.


Capítulo 6 – A chefe assassina Ivayne

Antes da viagem, sabia que não poderia viajar com um grifo exausto e faminto. Essa viagem mal seria capaz para uma montaria bem-treinada e pronta para este fim, então sabia que deveria me preparar antes. Lembro que há meses atrás, na minha época inocente, ouvira de meu irmão algumas notícias que o príncipe Arthas montou acampamento no sul de Northrend, caçando o criador dos mortos-vivos.
Alcei vôo para o sul, voando sem pressa, conforme a disposição e capacidade do grifo, até avistar um magnífico fiorde à distância. Chegando bem próximo, vi uma estrutura com construções da Aliança, mas sem movimentos ou habitantes. Era a primeira das bases que Arthas havia construído quando veio para Northrend, a fortaleza de Valgarde. No lago não muito distante, alguns escombros de embarcações e mesmo assim, nenhuma viva alma habitava a cidade. Aterrisei com o grifo no centro da cidade e já o deixei descansando em uma clareira próxima da principal estrutura da cidade. Procurei e cacei alguns animais e coloquei suas carcaças para o grifo se alimentar enquanto eu entrei na fortaleza.
Tinha um pequeno bar, com um fogo que há muito tempo não se acendia. Por precaução evitei chamar atenção e deixei tudo como exatamente estava. Descansei um pouco, enquanto ouvia o barulho do grifo estraçalhando os restos dos animais que eu havia deixado para ele.
Em duas horas, iria voltar para Lordaeron. De todas as missões que eu fiz, sempre odiei as que eram de entrega de correspondências ou de malotes. Nunca olhavam com bons olhos o portador das entregas, principalmente quando eram notícias ruins. Como dar a notícia para uma mulher que seu marido acaba de morrer? Ou para as suas filhas, que nunca mais vão ver o seu pai? Já previ um destino sombrio antes de chegar. Duas horas de vôo – poucos grifos eram capazes de tal proeza. Uma viagem sem incômodos, e finalmente começava a ver terra. Chegava finalmente a Quel’thalas, o reino dos elfos. Sempre ouvia histórias mas nunca tinha ido pessoalmente até lá; e agora que essas idas ficariam cada vez mais escassas – desde a invasão pelos exércitos da Scourge, Quel’thalas se fechou para os povos da Aliança, alegando que era culpa deles a destruição e quase que completo extermínio de sua cultura.
Finalmente, cheguei a Lordaeron. O grifo pousou na entrada da grande capela que tinha dentro do monastério, fazendo um imenso alarde. Os guardas logo me cercaram e eu saí do grifo com pressa. Assim que saí do grifo, os soldados já estavam com lanças e espadas prontas, apontadas para mim. Eu apenas disse uma frase e eles se afastaram: “Tenho uma mensagem urgente de Invar para Yana Bloodspear.” Em questão de minutos eles viram a lâmina de Serilas em minha cintura e baixaram imediatamente a guarda.
Yana me esperava. E talvez a pior das notícias junto. Quando finalmente cheguei à prisão do monastério, vi Yana explicando ao seu aprendiz, o interrogador Vishas, como extrair o máximo de informações de um prisioneiro usando apenas de métodos simples. Ela prontamente me reconheceu, e veio me saudar, apesar de sua expressão estar bem confusa – estava me vendo, mas não havia recebido nenhum contato de Invar. Ao entregar a carta para Yana, me certifiquei antes de refazer o lacre, afinal, não podia deixar que ela notasse que eu havia lido a mensagem.
Cinco segundos, quase que contados. Foi esse o tempo que demorou ao mundo dela ruir diante de seus olhos. Agora a curiosidade e surpresa não existiam mais, apenas um olhar vazio, uma expressão completamente oca pairava na face de Yana. Ela saiu do monastério sem falar uma única palavra, sem olhar para ninguém. Instintivamente decidi segui-la, e assim que chegamos ao meio do caminho entre o monastério e Brill, Yana arremessou sua arma em minha direção – apesar de estar caminhando furtivamente, ela não havia se intimidado ou surpreendido com tal fato. A espada de Yana acertou a casca da árvore na qual eu estava me ocultando, e assim finalmente ela falou algo.
Yana Bloodspear: Você me trouxe a pior das notícias. O que mais você quer de mim?
Ivayne: Lady Yana, infelizmente eu não estava perto de Invar quando ele adentrou Ulduar. Ele foi sozinho, e quando eu o segui me deparei com as forças do Lich King.
Yana Bloodspear: Você leu a carta dele?
Ivayne: Ele me endereçou uma carta... E a outra era para você.
Yana Bloodspear: E você leu essa carta dele?
Ivayne: Não, jamais.
Yana Bloodspear: Você leu essa carta dele?
Ivayne: Como poderia? Ela estava selada...
Yana Bloodspear: Invar sempre soube como lacrar uma carta, mas sabia também que um ladino iria sempre fazer um lacre perfeito para ocultar sua possível leitura. Então ele sempre fez um selo mal-feito, porquê seria mais difícil para outro ladino imitar um lacre mal-feito.
Ivayne: ...
Yana Bloodspear: Então você é a única pessoa, com a minha exceção, que sabe sobre o sofrimento de Invar. Sabe também que a Scarlet Crusade não iria aceitar que ele agisse em nome dela, sendo portador da corrupção que eles querem tanto exterminar.
Ivayne: Sim, mas...
Yana Bloodspear: Já sei o que você quer. A outra metade.
Ivayne: ...?
Yana Bloodspear: Você quer a lâmina gêmea de Serilas. Pois bem, fique com ela.
Yana então arremessou com uma fúria surpreendente um embrulho, tão ou mais pesado quanto uma placa imensa de metal. Não sei se foi a fúria com a qual ela arremessou, mas eu fiquei totalmente sem ação, e fui ligeiramente arrastada para trás. Ao desembrulhar o pacote que eu finalmente entendi o que Invar havia escrito. Uma lâmina exatamente igual à Serilas, porém com uma cor azulada, porém ela já havia tido dias melhores.
Yana Bloodspear: Essa espada era a que Invar usava em sua outra mão... Antes dele mesmo a arrancar com um golpe de Serilas. Como todas as armas, elas tem certo apego ao seu portador; o fato de Invar ter arrancado a sua própria mão, e assim ter inutilizado ela, a transformou nisso que você vê agora – uma lâmina vazia, sem propósito. Como eu.
Ivayne: Mas... e as suas filhas? E quanto a Adelle? Lyabria??
Yana Bloodspear: Estão MORTAS!!!
Ivayne: ...!
Yana Bloodspear: ... elas estavam na capital quando...
Ivayne: ...
Yana Bloodspear: Agora vá. Saia daqui.
Eu senti como se, além do peso extra da lâmina irmã de Serilas, tivesse mais uns dois grifos montados nas minhas costas. Que fardo foi recuperar essa lâmina velha, enferrujada e... vazia. Serilas pulsava com um brilho vermelho, como o sangue, mas essa outra lâmina pulsava suavemente com um tom azulado, como se fosse o brilho azul de um céu bem calmo e preguiçoso. Realmente, Yana estava certa, essa lâmina parece abosrver toda a tensão do ambiente e deixar tudo... vazio. Nomeei ela, com algum tom de ironia, como a lâmina do vácuo (Void Sabre).
Agora, quem se sentia vazia era eu, consegui cumprir a última instrução de meu mestre, mas não tinha para onde voltar. Como Yana falou, se descobrirem a verdade sobre Invar, eu seria a primeira a ser exorcizada pela extrema fé da Scarlet Crusade.


Por Nany Casteleira e Rafael de Menezes




Ivayne's Theme


Solitary Ground - Epica
Living at different places
Evading into various spaces
My compass has broken, I'm losing the way
An ongoing madness has led me astray

My past breaths down my neck
And it seems now that all I can do is
Go back to beginnings when all lay ahead
A fading illusion now plagues me instead

In me there's still a place that fullfills me
A sanctity here that I call home, I run to
When winter descends
If I try, can I find solitary ground

I follow illusive paths
Oh, it seems they've been written in stone
And a door to a new life is closing so fast
Burning the bridges will not bring me back

In me there's still a place that fulfils me
A sanctity here that I call home, I run to
When winter descends
If I try, can I find solitary ground

In me there's still a place that fullfills me
A sanctity here that I call home, I run to
When winter descends
If I try, can I find solitary ground

I know that in me there's still a place that fullfills me
A sanctity here that I call home, I run to
When winter descendes
If I try, can I find solid ground
Or am I just wasting time?